23 julho 2007

Empatia 2

Dia 1º de maio desse ano, escrevi um texto chamado “Empatia” no qual falava de um vídeo que depreciava as mulheres e na dificuldade que o brasileiro tem de se colocar no lugar dos outros.

Esses dias conheci a história de Natalie Gilbert, uma garota de 13 anos que foi escolhida para cantar o hino nacional americano no primeiro jogo das finais da NBA. Estádio lotado, quase 20.000 pessoas... Ela começa “Oh, say! can you see by the dawn's early light / What so proudly we hailed at the” e... DEU BRANCO!

O vídeo é lindo. É emocionante ver como o técnico do Portland Trail Blazers, Mo Cheeks, dá o suporte emocional para Natalie terminar o hino. O público, que tinha ensaiado uma vaia, termina por cantar junto e aplaudir a garota. No final, o técnico sussurra para ela “Não se preocupe, garota, todos nós temos um jogo ruim de vez em quando”. A história pode ser vista no excelente blog Caixa Preta.

Em outro blog, vi que algumas pessoas se sentem como se jamais tivessem um jogo ruim. Acreditam que conseguiram satirizar a garota? Pois veja a história aqui, num belo post que fala também de empatia. Faço minhas as palavras de Juca: “Eu não sei se estou ficando muito chato, mas não consigo ver graça no vexame alheio.”

22 julho 2007

O amor da sua vida

Aos grandes amigos se permite muitas coisas perigosas, inclusive falar coisas que podem magoar, sem que recebam alguma resposta imediata e raivosa.

_ Esse foi o amor da sua vida.

Assim um grade amigo encerrou um assunto. O primeiro impulso foi negar, a primeira vontade foi sair. Mas não era qualquer amigo que falava: era um grande amigo.

Qualquer palavra merece tanta consideração quanto damos às pessoas que as dizem. Assim, as coisas ditas por nossos familiares e pelos grandes amigos merecem toda a consideração do mundo. Passei dias com aquela frase na cabeça...

Não se tratava de negar por negar. Nem como um ato de desespero, negando um fato. Porque não era um fato, parecia uma sentença mas eu sentia que não estava obrigado a obedecer!

O grande amor da vida da gente não magoa, não fere, não trai, não inventa mentiras, não difama, não envenena... Porque o grande amor da vida da gente é, antes de tudo, amor e por isso “é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” e também porque “o amor jamais acaba” (I Cor 13:4-8).

Ora, de um lado podia ser benigno, mas do outro não era. De um lado era sofredor, do outro pouco importa. De uma parte tudo sofria, tudo cria, tudo esperava e (quase) tudo suportou, mas de outra parte era invejoso e soberbo, se vangloriava, se portava inconvenientemente e principalmente se irritava. Então não foi o grande amor da minha vida, pois de outra parte amor nunca foi.

Mas, se não foi amor o que recebi, restava a questão principal: eu já tivera o “amor da minha vida”?

Ora, que amei não nego. E engana-se quem pensa que amamos somente uma vez na vida.
Mas esse só vai ser o grande amor da minha vida se eu deixar: se eu desacreditar o amor, se eu me fechar para todas as novas experiências, se eu me tornar uma pessoa amarga.

Esse foi o grande amor da minha vida? Existe isso de “o amor de uma vida”? E, caso exista, está limitado a acontecer uma única vez?

Ora, a frase dita “esse foi o amor da sua vida” poderia até soar como uma sentença, mas somente se eu deixar que assim seja. Seria uma grande ingratidão minha com o mundo inteiro se eu deixasse que a pessoa que provavelmente menos me amou se tornasse o grande amor.

Então eu escolho que meu grande amor ainda não veio. O amor da minha vida pode ser o próximo, pode ser o outro, pode ser o seguinte. Pode ser o último (tomara que seja!). E pronto!

O grande amor da nossa vida não é uma sentença. Ele é uma escolha!

PS: E, no fundo, acho que amei mais outras pessoas antes e depois desse tal “grande amor”.

04 julho 2007

O Meu Olhar (de Alberto Caeiro)

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Recebi esse texto por e-mail de uma amiga. Embora não costume postar textos de outros autores, acho que ela tinha razão quando disse que este texto combina com o blog. Obrigada.