17 abril 2007

Acho que é assim que tudo termina...

13 abril 2007

Você ligaria?

Hoje me deparei com uma notícia que, infelizmente, não é tão incomum: “criança morre depois de ser esquecida no carro” (Você pode ler a notícia aqui: Terra).

Não sei se a notícia é mais freqüente devido aos avanços na área das comunicações ou se os pais andam esquecendo seus filhos devido ao stress desse mundo moderno. Mas essas são indagações para outros dois textos. O que me chamou mais atenção nesse texto foi o seguinte:
“Como está de férias, ele retornou para casa e não teria lembrado que o filho estava no carro. Apenas depois de receber um telefonema da mãe da criança, o pai percebeu que havia esquecido o menino dentro do veículo.”
O que vou dizer agora pode ter acontecido tanto quanto pode ser somente minha imaginação.

A mãe chega no trabalho, sobe pelo elevador e senta-se na sua mesa. Enquanto liga o computador, olha para o lado e vê o porta-retrato com a foto da família. Pensa no filho. Em seguida pensa no marido.

Ele saiu de casa com sono. É um bom marido e um bom pai. Mas saiu de casa com sono. Ela pensa “será que ele lembrou que o bebê estava no carro?”

A idéia é absurda. Quem acredita em poderes da mente, acredite que foi um aviso parapsicológico, uma previsão, o que for. Na hora ela só pensou que era uma idéia absurda.

Computador ligado, começou a digitar seu relatório, fazer a planilha ou o que quer que fosse seu afazer. Mas entre um parágrafo e outro, a idéia voltava à mente. “Será que ele lembrou de tirar o bebê do carro?”

Balançou negativamente a cabeça, como se quisesse espantar as idéias. Levantou e foi ao bebedor. Bebeu lentamente um copo d’água. Por mais que fizesse, não conseguia tirar da cabeça aquela idéia maluca. E agora parecia que estava mais freqüente. E mais incisiva!

Voltando pra mesa encontrou uma amiga do trabalho. Na verdade nem era tão amiga assim, mas ela precisava falar com alguém. Era urgente colocar pra fora aquele pensamento antes que ele tomasse conta do cérebro inteiro, deixando-a louca. Se já não estivesse...

A nem-tão-amiga recém-promovida a confidente ponderou com a clareza de raciocínio que é impossível para um protagonista ter. Aconselhou que ela ligasse. O que tinha a perder?

E ela então ligou. Mas já era tarde demais...



Pode ser que essa história não tenha sido assim. Talvez ela tenha ligado na primeira vez em que pensou em ligar, só que tenha pensado tarde. Pode ser que ela tenha ligado pra saber se a empregada tinha lavado e passado o vestido que ela usaria à noite, aí perguntou se o bebê estava dormindo então o pai se lembrou.

Mas suponhamos que a história tenha acontecido da forma como narrei.
  1. Se ela liga rápido e o pai não tinha lembrado do bebê no carro, ele corre, tira o filho e todos ficam felizes;
  2. Se ela liga rápido e o pai tinha tirado o bebê, ele fica bravo por ter sido acordado (de novo), passa uns dias emburrado mas ainda consegue sorrir toda vez que embala o bebê nos braços. Depois voltam a ser uma família feliz;
  3. Se ela demora a ligar mas ele não havia esquecido o filho no carro... As coisas acontecem como no caso anterior;
  4. Se ela demora a telefonar e ele havia esquecido... Bem, foi o que aconteceu;
  5. Se ela não liga... Remorso pro resto da vida.
E você, leitor, o que faria? Espero que nunca se veja numa situação assim de tal gravidade, mas situações semelhantes acontecem cotidianamente em nossas vidas. O que vai fazer numa situação assim?

09 abril 2007

Distância

“Isso era o mínimo que eu podia fazer.
Embora fosse o máximo que dava pra fazer hoje, à distância.”

07 abril 2007

Cajuína

Há um mito de que Caetano tenha feito a música “Cajuína” para Teresina. Não é verdade!

A música foi composta pro Dr. Eli, pai de Torquato Neto. Ele, pessoa sensacional, humilde, simples, de uma amabilidade fenomenal, não lhe reclama que lhe tomem o que é seu de direito. E escuta contarem como verdade o mito falso de que a “Cajuína” é de Teresina.

Leia a letra da música, tente ver alguma homenagem a Teresina... Depois eu volto.

Cajuína
Caetano Veloso

Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina



Viu alguma coisa homenageando Teresina? Falou do Rio Poty? Da ponte metálica? Do encontro dos rios? Do Troca-troca? Não, né? Pois é... Não tem nada de Teresina.

No livro “Pra mim chega - A biografia de Torquato Neto”, Toninho Vaz conta:
(Em 1979,) Caetano compõe e grava Cajuína, escrita depois de uma visita a doutor Heli, em Teresina, que lhe deu a rosa pequenina colhida no jardim da casa, na Coelho de Resende. Sobre esse encontro, doutor Heli diria: “O rapaz chorou muito aquele dia”. (Edt. Casa Amarela - pág. 207)
Tá, você pode achar que não prova nada. Então, que tal as palavras do próprio Caetano Veloso?
Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato.

Torquato estava, de certa forma , afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool).

Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso.

No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais freqüentemente com Chico do que comigo. Chico eu eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal.

Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Quando, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durantes horas, sem parar.

Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava.

Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína.
(Veja em http://oglobo.globo.com/blogs/moreno/post.asp?cod_Post=10886)

Agora, volte lá pro início do post e leia a letra, desta vez sabendo como foi feita.

Entendeu a letra agora? Então, faz um favor pro “homem lindo”, pai do “menino infeliz”: passe essa história pra frente.