26 maio 2008

Sempre há algo a mais

O encarregado do escritório de patente dos EUA (U.S. Office of Patents), Charles H. Duell, escreveu em 1899 uma carta ao presidente pedindo a extinção do órgão que chefiava pois este não teria mais utilidade. De acordo com ele, “tudo o que podia ser inventado já o foi”.

O filósofo e economista político Francis Fukuyama escreveu em 1989 um artigo chamado “O fim da história” e em 1992 a obra “O fim da história e o último homem”. De acordo com esse autor americano de origem nipônica, nada mais aconteceria de importante na história após a queda do Muro de Berlim.

Obviamente continuam inventando coisas e os fatos históricos continuam acontecendo. Se tais previsões, feitas por especialistas, estavam erradas, o que me faria supor que a minha estava certa?

Supus um dia que já tinha aprendido tudo sobre relacionamentos e auto-conhecimento. Achei que havia aprendido tudo, amadurecido totalmente, levado todas as pancadas que merecia e quebrado a cara todas as vezes que poderia. (Enfim, que havia esgotado todas as possibilidades de erro em um relacionamento).

Estava completamente equivocado: sempre há algo a mais para aprender. Sempre há um passo a mais rumo ao total amadurecimento. Aqui e acolá se descobre um aspecto antes oculto, um ponto que precisa melhorar, um capricho de temperamento que necessitamos eliminar.

Cada vez que penso ter aprendido tudo, a vida me apresenta novos desafios, como se eu fosse um aluno que houvesse passado de ano e agora tivesse que resolver equações mais complicadas.

Mas quantas séries tem a escola da vida? Depende da vida que você quer ter. Eu escolhi ser completamente feliz e para isso preciso fazer até “pós-graduação”... Pelos meus cálculos, pelo número de vezes que “passei de ano” (leia-se “quebrei a cara”), devo estar perto de “PhD”. (Se não estiver, talvez me contente só com o “mestrado”...)

Após a formatura, espero, só restarão pequenos ajustes no temperamento e no jeito de ser: coisinhas facilmente contornáveis no dia-a-dia, atritos mínimos que não custarão o fim de um relacionamento. A imaturidade (a maior parte, pelo menos) será coisa do passado.

Sempre haverá algo a aprender e um pouco mais pra amadurecer. Mas dessa vez, mais do que nunca, espero não ter que “passar de ano”. Chega um tempo em que é hora de ser feliz!

25 maio 2008

Louco seria se eu não seguisse o caminho do amor

Esse é um texto do livro “O Profeta”, de Gibran Kahlil Gibran. É um livro muito bonito, com lições de vida e é facilmente encontrado em livrarias e até em bancas de jornal por um preço bom, pois faz parte da coleção “A Obra Prima de Cada Autor”, da Editora Martin Claret. (Não ganho nada por esse patrocínio.)

O Amor

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
“Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

O texto inteiro é lindo, mas se tivesse que destacar uma só parte, seria esta:
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
Quando o amor vos chamar, segui-o!

23 maio 2008

No ônibus

Viajar de ônibus é uma experiência enriquecedora. Você fica totalmente à mercê do motorista, alguém que você não conhece, que decide aonde vai e com que velocidade.

Nada do que você fizer poderá influir no rumo do ônibus. Pode ler, ouvir música, estudar, dormir, olhar a paisagem ou conversar com um colega de viagem. Nada, absolutamente nada muda em relação ao trajeto e tempo de viagem. Não a tornará mais lenta ou mais rápida, não alterará o caminho.

Eu costumava observar as placas de quilometragem nas rodovias e a partir delas calculava a distância que faltava, a velocidade do ônibus e, conseqüentemente, a hora de chegada. Havia nisso uma ilusão de controlar o ônibus, como a ilusão do galo que pensa fazer o Sol nascer com seu canto. Assim como a aurora independe do cantar do galo, calculando ou não a hora de chegada, chego na rodoviária às 18h30 (ou 5h30, dependendo do destino).

Viajando de ônibus, você pode ter a ilusão de controlar algo, na verdade não controla coisa alguma e ainda assim (ou talvez até mesmo por isso) dá tudo certo.

O que mais você pode deixar de controlar para dar certo?

03 maio 2008

Rally

Preciso aceitar o fato de que jamais terei o controle da minha vida.

Por mais que eu tente prever tudo, por mais que eu tente evitar todos os acidentes, sempre pode haver algo imprevisto, improvável, impossível, imponderável e tantos outros “im”s que causarão alguns estragos.

Posso me cercar de todos os cuidados, de todas as atenções. Posso mesmo cercar de cuidados e atenções as pessoas que amo e demais entes queridos, mas sempre pode acontecer algo indesejável.

É impossível cuidar de tudo, é impossível evitar tudo. Pode cair uma chuva num dia de praia, pode chegar um tornado durante a viagem ao campo, pode cair um meteoro na hora de dizer “eu te amo”.

E pode simplesmente haver um mal entendido, uma palavra solta, um olhar mal explicado, um recado na secretária eletrônica, uma buzinada no trânsito. De uma hora pra outra os ânimos podem mudar.

A gente quer que a vida seja perfeita e sem saltos, mas ela é cheia de surpresas. A gente quer que o caminho seja asfaltado, mas ele é um rally.