15 dezembro 2008

Reciclagem

Há sempre alguém querendo

o que alguém não quer mais.

Recicle-se!

24 novembro 2008

Feliz (depois de amanhã) - II

Escrevi o postFeliz (depois de amanhã)” como um desabafo. Hoje, relendo, vejo que ele continua verdadeiro, porém eu não era a vítima, mas o algoz.

Continua então publicado, com um aviso: Se você acha que não está recebendo o amor que merece, preste atenção no carinho que está (ou não) fazendo.

Ou, nas palavras de Lair Ribeiro, que uma pessoa importante me disse: “A vida é um eco, se você não gosta do que esta recebendo, preste atenção no que esta emitindo.”

E quem nunca errou, que atire a primeira pedra...

23 novembro 2008

Último abraço

Ah, se eu soubesse que era a última vez...
não teria dito nada do que disse,
não teria feito nada além de te abraçar
e aproveitar cada segundo sem tirar os olhos de você...

Se tivessem me avisado que era a última vez,
eu poderia implorar pra que você ficasse mais um pouco,
só pra te explicar que mais um pouco seria muito pouco,
e que por menos que fosse, já seria muito pra mim...

Se eu soubesse, ah, se eu soubesse!
te falaria mil coisas, sem dizer uma palavra,
te mostraria mil dias de agonia, em um olhar...

E quando você estivesse saindo, eu te chamaria de volta,
só pra dizer mais uma vez o “eu te amo” que ninguém mais vai ouvir,
e te dar um último abraço, com o amor que ninguém mais vai te entregar.

Último abraço - Samuel da Costa

29 outubro 2008

Feliz (depois de amanhã)

ATENÇÃO: Escrevi o post abaixo, dia 29 de outubro, como um desabafo. Hoje, dia 24 de novembro, relendo, vejo que ele continua verdadeiro, porém eu não era a vítima, mas o algoz.

Continua então publicado, com um aviso: Se você acha que não está recebendo o amor que merece, preste atenção no carinho que está (ou não) fazendo.

Ou, nas palavras de Lair Ribeiro, que uma pessoa importante me disse: “A vida é um eco, se você não gosta do que esta recebendo, preste atenção no que esta emitindo.”

E quem nunca errou, que atire a primeira pedra...
Muita gente coloca a felicidade no futuro. Quando trocar de emprego será feliz. Quando comprar uma casa... Quando se aposentar... Graças talvez aos livros de auto-ajuda, talvez aos arquivos do PowerPoint que recebemos pela internet, esse adiamento da própria felicidade está se tornando menos freqüente. Outro engano, porém, continua.

Trata-se da pessoa que ama alguém que espera a felicidade. Este espera um novo emprego para ser feliz. Aquele espera que, com o novo emprego, a pessoa amada se torne mais feliz e, conseqüentemente, mais amorosa.

Assim como quem coloca a felicidade no futuro nunca a alcança, quem está ao lado também jamais verá esse momento de realização no qual receberá o agradecimento e a recompensa pelo tempo em que suportou toda a carga de pessimismo e desânimo. Erra duplamente: por esperar a felicidade (apesar de ser a de outrem) e por colocar a sua felicidade na dependência dessa outra pessoa.

Dia após dia o ser apaixonado se preocupa em formas de resolver os problemas da pessoa que ama. A conta no banco, o presente da amiga, a disciplina na faculdade... Cerca-a de cuidados no intuito de lhe evitar problemas e aborrecimentos. Tenta fazer o ente amado feliz de todas as formas e com todos os seus recursos físicos, mentais, financeiros e o que mais tiver.

Passam-se meses ou anos e ele não se dá conta de como a relação tem se deteriorado. Os dias se sucedem sem nenhum carinho. A paixão inicial dá lugar a uma relação de amizade e proteção em que o apaixonado se torna uma mistura de amigo, pai, psicólogo e banqueiro. Tudo, menos namorado.

O apaixonado sempre acredita que os bons dias voltarão... É só ele (ou ela) trocar o carro... Assim que a doença da mãe passar... Assim que ganhar o aumento na firma... Preso no laço da pessoa amada, ele gasta energia, tempo e dinheiro para resolver problemas que não são seus, tentando fazer feliz alguém que não procura ser feliz, colocando sua felicidade na dependência de outra pessoa.

Se o outro só vai ser feliz “amanhã” (e isso é válido enquanto houver “amanhãs”), o apaixonado, embora não se dê conta, só será feliz depois de amanhã. Até lá ambos serão infelizes.

A hora de ser feliz é agora. E isso vale tanto pra quem adia a felicidade como para quem está ao lado, esperando.

09 outubro 2008

Boxes?

Duas coisas que não entendo: crase antes de palavra masculina (assunto pra outro texto) e plural de palavra com X.

Sobre este erro, tenho batido muito com isso nos locais em que trabalho:
  • FAX não tem plural: um fax, dois fax. É a regra de tórax, cálix, bórax, ônix, fênix, índex, apêndix, látex, córtex, clímax.
  • BOX (de corrida) também não tem plural, pela mesma regra (termina em X). Um box, dois box, reta dos box.
  • Eu sei que a regra gramatical diz que as palavras estrangeiras fazem o plural de acordo com a língua de origem (latim: campus/campi, francês: bijou/bijoux). Mas fala sério! Palavras como fax, box e mouse já estão aportuguesados! Ou o plural de mouse (acessório de computador) é mice, ao invés de mouses?
  • BOXE (luta) tem plural. Assim, podemos dizer “houve demonstração de boxes no ginásio: o normal e o tailandês, aquele em que se pode dar chutes”.

06 outubro 2008

À deriva

Você já teve um dia ruim? Um dia em que parece que tudo e todos estavam contra você? Do pneu do carro furado logo cedo à falta de luz na hora do jornal e da novela, passando pelo mal humor do cônjuge e pela bronca do chefe, tem dias em que tudo acontece junto.

E as fases da vida em que nada dá certo, já as teve? No emprego os seus projetos são arquivados, a promoção vai pro seu colega chato e aquele que mais te odeia vira seu chefe... Na vida pessoal, o insucesso permanente com o sexo oposto, os amigos sem tempo e aquela tentativa de gastar energia no judô que resultou em uma torção no tornozelo esquerdo. O que está havendo?


Olhe os pássaros grandes ou os planadores. Eles conseguem voar por muito tempo sem bater as asas e sem ter motores. Como fazem pra se manter no ar? Simplesmente aproveitam as correntes de ar ascendentes pra subir e procuram não baixar muito quando pegam uma corrente descendente.

Às vezes acho que a vida também tem suas correntes ascendentes e descendentes. Nós não as vemos, assim como não vemos o ar. Mas elas nos pegam, ora em uma maré de sorte, ora em uma época de revezes.

Tudo o que podemos tentar fazer é subir o máximo que pudermos na época das vacas gordas, guardando provisões para não cair muito na época das vacas magras. Funcionou no Egito antigo. Funciona nos dias de hoje.

Por isso, tenha em mente que na vida você é um planador, não um jato ou um helicóptero. Se está numa fase boa, economize recursos pois a bonança passa. Se está numa fase ruim, tenha fé e espere, pois ela também passa.

No final das contas, estamos todos à deriva, ao sabor das correntes de ar.

14 setembro 2008

Valorizamos mais o registro que o fato

Dizem - não sei se os livros de histórias verdadeiras ou os roteiros fantasiosos de cinema - que há uma tribo de índios nos EUA que acredita que a foto de alguém lhe rouba a alma.

Uma vez, quando criança, pedi pra tirar as fotos em uma festa, em casa. Seduzido pela máquina e pela técnica, achava que seria divertido. E foi muito! Por dez ou quinze minutos... Depois me entediei com aquilo, com a necessidade de buscar as pessoas, os melhores ângulos e tudo o mais. Era como se a foto estragasse a diversão. Era como se a foto roubasse a alma da festa.

Alguns anos depois, um amigo resolveu filmar sua festa. Ao entrar com a filmadora na sala, imediatamente todos paravam de dançar ou conversar. Uns se escondiam, outros ensaiavam poses, caras e bocas. A sedução da idéia de ser diretor de cinema do meu amigo esbarrava na ausência de atores pro seu filme: uns não desejavam ser nem ao menos figurantes ao passo em que outros queriam logo um Oscar. Meu amigo jamais ganhou algum prêmio filmando suas festas. Tudo o que ele conseguia ao entrar no ambiente com a filmadora era tirar a espontaneidade da festa. A filmagem roubava a alma.

Lembrei de tudo isso hoje, vendo a despedida de uma jogadora de vôlei da seleção brasileira, a “Fofão”. Assim que o jogo acabou, suas companheiras de equipe jogaram-na pra cima, gritando o seu nome e em seguida a abraçaram. Tudo muito bonito, genuíno, espontâneo... Mas ela passou próxima a um repórter que imediatamente colocou o microfone na sua frente e disparou a pergunta:

_ E agora?

Como assim “e agora?”??? Agora sei lá eu e nem ela. Ninguém sabe! Pode ser que ela vá dar aulas em escolinha, pode virar comentarista esportiva, pode posar pra uma revista masculina, pode cair em depressão... Pode tanta coisa mas você quer essa resposta agora?

É um tanto inoportuna a presença do repórter ali. A jogadora coça a cabeça como se buscasse o que responder. Ele quer uma resposta, o que implica que preciso dizer algo. E ele a quer agora... Mas tinha que ser agora mesmo? Tivesse inspiração na hora, talvez ela tivesse respondido ao “e agora?” da seguinte forma:

_ Agora eu vou voltar pra lá e festejar com eles, curtindo o carinho da torcida. Amanhã eu dou uma coletiva e te digo o que vou fazer.

Ela foi simpática e ensaiou uma resposta. Eu confesso que não ouvi. Já estava viajando no tempo, relembrando minha infância com suas Olympus e JVCs.

A câmera daquele repórter roubou a alma do momento. A jogadora, coitada, após coçar a cabeça e pensar em algo chegando à conclusão de que o que o “e agora?” reserva é uma grande incerteza, voltou pra perto das companheiras de equipe. Perdera um minuto e meio de comemoração e 80% da empolgação. Antes se sentia a mulher mais poderosa do mundo e agora voltou a ser só uma fulana que não sabe se terá emprego.

Mas me apeguei demais à pergunta. A interrupção por si só já faz o estrago. Veja os aniversários, as formaturas e os casamentos: quanto tempo é gasto tirando fotos e filmando!

O que era pra ser uma comemoração se transforma em uma via crucis de tira foto com um e com outro, vai de mesa em mesa tirando foto e filmando, agora uma com os pais, agora perto daquela coluna com vaso pra fazer a capa e a abertura do vídeo. Já fui em um casamento no qual os fotógrafos e cinegrafistas cercavam o casal, o padre e o altar, impedindo a visão da cena pelos que estavam presentes.

Muitos homens importantes tiveram somente cinco ou seis fotos na vida. Hoje tenho isso em uma única noite! No entanto não precisamos de foto alguma pra lembrar o primeiro beijo (seria muito improvável que alguém tivesse tirado uma foto naquela hora). Tiramos fotos de tudo e filmamos tudo na ânsia de eternizar o momento, sem nos aperceber de quantos momentos perdemos pra fotografar ou filmar e - o pior - de quanta espontaneidade a presença dessas máquinas nos rouba.

Temos que lembrar que o registro não eterniza o momento. Este será eterno ou não pelos seus próprios méritos. É preciso parar de ser um paparazzi de si mesmo.

26 agosto 2008

Peso desnecessário

Você já tentou correr com uma pessoa nos braços? E nadar com alguém nas costas? Virar cambalhota com alguém nos ombros, já tentou? Difícil, não é mesmo? É provavelmente impossível fazer essas coisas com o peso de outra pessoa. Imagine agora com o peso de uma nação inteira!

Absurdo? Mas é o que costumamos fazer com nossos atletas (olímpicos ou não). Depositamos neles a esperança de uma vida toda, como se da vitória dele dependesse nossa vida quando, no fundo, nem a vida deles próprios depende daquela prova.

Sabe aquela história de “a pátria de chuteiras”? Só prejudica, seja a nação, seja o atleta. Colocamos nossas esperanças no desempenho de certo atleta como se a vitória dele fosse gerar empregos, diminuir a violência, baixar os altíssimos impostos. Como se, graças à vitória de certo atleta, pudéssemos comprar a feira do mês e, na saída, dizer ao caixa: “coloca na conta da medalha de ouro do fulano”.

É muita responsabilidade! O atleta sente. Muitas vezes nem a maioridade tem! Veja o caso da ginástica olímpica feminina: o Brasil torcia pela Daniele Hypólito até descobrir a Daiane dos Santos. Imediatamente ela virou o centro das atenções. O resultado? Na competição seguinte, um fiasco. Aí elegeram a Jade Barbosa como nova estrela. Gente, a Jade tem só 17 anos!!!! Não é peso demais? Responsabilidade demais? Como é que o corpo vai fazer todos os movimentos milimetricamente perfeitos se a mente, ao invés de se abstrair de tudo e se concentrar somente no movimento, está com algo a lhe tirar a calma?

Veja outro caso. O Rubens Barrichello nunca foi um excepcional piloto, mas era de médio pra bom. Com a morte do Senna em Ímola, Rubinho foi chamado a ser o herói brasileiro. Transformou-se em um piloto (mais) medíocre: todos os seus vice-campeonatos foram ganhos quando a Ferrari corria sozinha e as outras equipes se arrastavam. Mesmo assim, ele era incapaz de passar um carro em movimento e abria fácil pra quem pressionasse. Sem arrojo, sem determinação, sem personalidade. O piloto ideal de um ônibus escolar! E nem poderia ser diferente, já que conduzia toda uma numerosa nação no banco do passageiro. Não há o adesivo “bebê a bordo”? Com ele era “Brasil a bordo”.

Mas o prejuízo é ainda maior quando eles ganham! Com a vitória deles, nos sentimos potências mundiais! O Brasil ganhou dos Estados Unidos no arremesso de serpentina? Imediatamente nos sentimos o país mais poderoso do mundo de todos os tempos! Os impostos continuam sufocando a economia, a saúde pública piora dia a dia, o desemprego cresce, a corrupção corre solta mas nos sentimos melhores e adiamos a urgência das reformas e mudanças. O escândalo do Congresso ameaça respingar no Presidente e ele recebe o medalhista de ouro: adivinha qual das duas notícias receberá a manchete do outro dia e qual das duas será mais comentada...

Precisamos parar de colocar tanta responsabilidade nas costas de nossos atletas. E, por falar nisso, nas costas de qualquer um! Não são os meninos do vôlei, a Marta do futebol ou o Diego Hypólito que vão salvar o Brasil não! Nem vai ser o Lula, o FHC, o Collor ou o Sassá Mutema tampouco! Só você é capaz de melhorar nosso país. Cada um de nós...

As olimpíadas acabaram... Pro Brasil, sem muito brilho e sem muitas medalhas. E esse texto termina aqui também... Sem brilho e sem medalha. Como convém.

17 julho 2008

Ser Feliz

O que é “ser feliz” pra você? Ter dinheiro? Ser famoso? Ter a saúde impecável? Ter uma família feliz? Quais destes você escolheria?

Aposto que respondeu “todos”, não foi? Pois então me perdoe por te dar uma má notícia: você não pode ter tudo isso. Algumas pessoas conseguem, quando nascem já ricos e famosos e, se não resolvem se meter com drogas e escolhem bem a companhia, mantém a saúde e conseguem formar uma família feliz, na medida do possível.

A maioria dos que nascem ricos e famosos (ou se tornam rapidamente) desperdiçam a saúde em drogas ou se casam por impulso. Britney Spears que o diga. Mackauley Culkin idem.

A maioria dos mortais tem que suar a camisa se quiser ser rico ou famoso. E suar ainda mais se quiser ser os dois ao mesmo tempo. Participar do clube dos ricos e famosos não é nada fácil. É preciso trabalhar muito até chegar lá, embora depois você possa - se chegar - curtir a sombra e a água fresca. Ou você acha que o Ronaldo não jogou um bocado antes de ganhar um contrato vitalício com a Nike? (Sim,depois participou de um escândalo, mas aí fica sendo assunto pra outro texto).

Nessa busca por dinheiro e fama, algo deve ser deixado de lado. O dia tem 24 horas para cada um de nós: eu, você e até o Jack Bauer. Não dá tempo de trabalhar um bocado, participar das baladas pra sair na coluna social, malhar na academia (além de fazer os checkups médicos periódicos) e ainda se dedicar à família, aproveitar a companhia da mulher e dos filhos (ou dos pais e irmãos) e educar, ouvir, aconselhar. Cada uma dessas coisas leva tempo!

Conheço gente que trabalha em algo que não gosta buscando um dinheiro além do que precisa. Sofrem de stress, insônia e mais uma dezena de problemas psicológicos que nem sabem que têm. Após anos de trabalho árduo, precisam recuperar a saúde que perderam. Outros vivem nas baladas e gastam o dinheiro que não têm e buscam anos depois a saúde que deixaram no copo, no cigarro ou no pó. Isso quando não tornam ao pó (o bíblico) antes.

Como iniciei dizendo, você precisa fazer uma escolha. Você quer ser rico ou feliz? Famoso ou saudável? Vale à pena se matar de trabalhar e não ter tempo para ver os filhos crescendo?

Note que não estou dizendo que é uma coisa ou outra radicalmente. Não é o caso de escolher entre ser um famoso solitário ou um pobre cercado de amigos. Há um nível mínimo de cada coisa sem a qual de nada adianta: os estudiosos chamam isso de satisfação dos fatores higiênicos (não sei a razão do nome, mas aqui tem uma pista).

Todo mundo precisa de um mínimo de cada coisa para ser feliz. Precisa de dinheiro suficiente para se alimentar, se vestir, se educar e até pra algum lazer, tudo o que - na teoria - o salário mínimo deveria proporcionar. Ok, precisa ser mais que o salário mínimo. Mas pense: você seria muito mais feliz se ganhasse muito mais do que ganha? Ganhando pouco você seria infeliz. Mas se você ganhar o triplo do que ganha, sua felicidade seria o triplo? A qualquer custo? Vale a pena largar uma ocupação agradável (que os outros até vêem como hobby), na qual você faz o que gosta na hora em que quer, por um emprego no qual tem que bater ponto e passar o dia fazendo tarefas desagradáveis?

O mesmo se dá com a fama. Aqui e acolá é gostoso ser o centro das atenções dos amigos. Isso alimenta o ego. Mas e se o mundo inteiro lhe reconhecesse? Isso te faria mais feliz? Ou lhe transformaria em alguém egocêntrico, que cultuasse a própria personalidade a ponto de querer se transformar em outra pessoa? Como o Michel Jackson, por exemplo.

Em relação à saúde, faz sentido viver se privando de pequenos prazeres? Brigadeiros, chocolates, um vinho aqui e uma cerveja acolá, pelo culto à saúde? (Exceção feita em caso de restrições médicas ou religiosas). A partir de que ponto o culto à saúde se torna um culto ao corpo? Veja o aspecto dos fisiculturistas e das modelos! A obsessão pela saúde deu lugar à busca do corpo perfeito (na visão deles): o incrível Hulk ou a Olívia Palito.

Quanto à família, não sei o que restringir. Desde que se tenha o dinheiro necessário para viver (e não só sobreviver), a “fama” entre amigos (pra alimentar o ego de vez em quando) e a saúde para gozar as boas coisas da vida, todo o tempo e o esforço que puder, dedique à família. Ela é de onde você veio, o que te situa no mundo e a sua continuação no futuro: te tornam atemporal.

Uma vez, no colégio, minha turma falava de seus sonhos: um queria fazer doutorado no exterior, outro desejava uma Ferrari, um terceiro queria ser o maior advogado do Brasil, outro almejava ser Governador do Estado. De tudo foi dito. O meu sonho provocou espanto: eu queria ser feliz. Tive que esclarecer que longe de ser algo simplório, o meu desejo era mais difícil de realizar do que todos os outros reunidos.

A felicidade, para mim, não está em uma conta bancária “recheada”, em um iate ancorado em Mônaco ou em receber um Oscar de melhor ator. Estou dia a dia buscando a felicidade no equilíbrio entre o tempo dedicado a cada um dos aspectos da vida. Sei o que pode me tornar feliz e estou trabalhando para ter e manter a felicidade.

E, pra você, o que é “ser feliz”?

01 julho 2008

Mundo, estranho mundo


Notícia nº 1:
a partir de hoje, só maconha pode ser fumada em público na Holanda; tabaco está proibido

Sim, parece mentira, mas é a mais pura verdade. Quem duvidar, leia no Corriere Della Sera a notícia. Eu não defendo que se fume em público. Nem tabaco, nem maconha! O que não entendo é que se possa fumar um e não outro. Qual o mal que o cigarro “comum” faz que o de “canabis” não faz? E o “baseado” não deixa fumaça nem cheiro? O cigarro “comum” causa mortes e doenças que oneram o sistema público de saúde. O cigarro de maconha, idem.

Para piorar, o cigarro “comum” não altera a percepção, já o de maconha deixa a pessoa “lombrada”... O cigarro “comum” paga impostos e emprega pessoas. O cigarro de maconha alimenta o tráfico e alicia traficantes até entre crianças.

Motivos para proibir o fumo de tabaco em público: 1.000 motivos e é ótimo que seja proibido. Motivos para proibir o fumo de maconha em público: 1.001 motivos. Por que é liberado?

Notícia nº 2: na Suécia, menino exclui colegas de festa e o caso vai parar no Parlamento

Duvida? Leia no Terra Notícias e me diga. Há um número mínimo de convidados por festa? Preciso convidar meu vizinho, com o qual não me entendo? E todos os colegas de trabalho, mesmo aqueles que tentam “puxar o meu tapete”? E, principalmente, o Governo tem o direito de dizer quem entra na minha casa ou não?
Notícia nº 3: Holanda quer liberar sexo nos parques a partir de setembro

A notícia está no Portal G1. “A polícia holandesa quer liberar a partir de setembro o sexo em parques públicos.”

Detalhes:
  • A liberação já vale em alguns parques de Amsterdã;
  • O ato não poderá ser feito perto dos playgrounds e outros locais onde haja um grande número de crianças. (Como disse o amigo Trebor Basques, se forem apenas duas ou três crianças está liberado);
  • As camisinhas usadas terão que ser jogadas no lixo mais próximo. Isso é preocupação ecológica;
  • O vereador responsável pelo projeto pergunta “Por que devemos manter algo que atualmente é impossível de manter?”, mas o ato somente poderá ser praticado à noite. (ou seja, de dia vai ter que manter o que é impossível de manter. Ou, em outras palavras, o impossível de manter terá que ser mantido de dia.);
  • As duas ou mais pessoas que estiverem no meio do ato sexual também terão que controlar os barulhos. (Pergunta: e se os barulhos forem impossíveis de manter, aplica-se a regra anterior?);
  • Por outro lado, os donos de bichinhos domésticos poderão levar multas se andarem com os animais sem coleira. “Uma pesquisa mostrou que isto incomoda bastante aqueles que tomam sol e andar de bicicleta”, disse o vereador.

Coisas de um mundo em que o politicamente correto chegou há algum tempo e começa a dar “frutos mais graúdos” que o policiamento da linguagem, já discutido neste blog em Sobre certas coisas politicamente corretas - I e Sobre certas coisas politicamente corretas - II.

30 junho 2008

O Paraíso É Uma Questão Pessoal

(texto de Richard Bach, autor também de “Fernão Capelo Gaivota” e outros ótimos livros)

Sempre achei os pilotos de aviões de carreira os aviadores mais profissionais do mundo - estivessem eles a caminho da sua aeronave, atravessando a pista de concreto com as sacolas de avião na mão ou no comando de um quadrimotor a caminho dos quinze mil metros. E “mais profissionais” quer dizer mais bem pagos e melhores. Eu nunca poderia pensar em me tornar o melhor piloto do mundo se não pilotasse um avião de carreira e, além disso, o dinheiro. É um quadro lógico, que sempre atraiu muita gente.

Após ter relutado durante anos quanto ao que eu temia fosse apenas um exercício de direção de ônibus aéreo, chato como quê, decidi que talvez eu tivesse um preconceito estranho contra as companhias aéreas. Se realmente sou um piloto fora de série, com excelentes conhecimentos de vôo e de céu, pensei, o único lugar adequado para mim é a bordo de algum Boeing e, quanto mais cedo, melhor. Dirigi-me imediatamente à United Air Lines. Dei-lhes todas as minhas listas de tempo de vôo, números de certificados e tipos de aviões por mim pilotados tudo isso com plena confiança porque sei que, se há algo que eu sou capaz de fazer, é pilotar um avião. Planejava comprar o Beech Staggerwing e o Spitfire e o Midget Mustang e o planador Libelle o mais rápido possível, com o meu ordenado de comandante de avião comercial.

Os exames para o cargo incluíram um que testava a minha personalidade.

Responda sim ou não, por favor: Existe apenas um Deus verdadeiro?

Sim ou não: Os detalhes são muito importantes?

Sim ou não: Sempre se deve dizer a verdade?

Sim ou não. Humm. Meditei um bocado para responder a esse teste. E fracassei.

Um amigo, piloto da United, riu quando eu lhe contei o que tinha acontecido.

- Dick, para fazer esse teste, a gente primeiro faz um curso! A gente se matricula numa escola, paga cem dólares e eles lhe dizem quais são as respostas que as companhias querem, você dá as respostas certas e é contratado. Não vai me dizer que respondeu às perguntas da sua cabeça, vai? Certo ou errado: “O azul é mais bonito do que o vermelho?” - Você respondeu a isso sozinho?

Resolvi, então, achar uma maneira de driblar esse teste. Não havia a menor dúvida de que eu seria um magnifico comandante de avião comercial, mas o teste era uma pedra no meu caminho. Contudo, antes de pagar os cem dólares, achei por bem indagar sobre a vida de um piloto de companhia aérea.

Vidinha nada má. Depois de um ou dois anos, a gente até se sente culpado de levar para casa um cheque daquele tamanho por fazer uma coisa que pode ser considerada como um divertimento. Naturalmente, a pessoa precisa corresponder. Os sapatos precisam estar bem engraxados, a gravata com o nó bem dado. É preciso, claro, seguir todos os regulamentos, pertencer ao sindicato, andar de cabelo bem aparado e não é aconselhável sugerir melhorias técnicas a pilotos empregados há mais tempo.

A lista continuava mas, por essa altura, comecei a sentir estranhas hesitações no fundo do meu ser. Afinal de contas, eu podia ser o maior aviador da companhia, podia pilotar com absoluta precisão, esforçar-me por melhorar sempre Mas, se o meu cabelo não estivesse cortado segundo o modelo indicado, eu não seria o homem perfeito para ocupar o cargo. E, se eu me recusasse a entrar para o sindicato, por estranho que pareça, não seria um bom funcionário. E, se me lembrasse de dizer a um comandante como é que ele deveria voar. . .

Quanto mais o meu eu interior falava, mais eu achava que a United fizera bem em me reprovar. Não basta dominar os controles, o leme, instrumentos e sistemas. Eu nunca seria um bom piloto comercial e, rebelde por natureza às normas de todas as companhias, provavelmente seria um horrível piloto de carteira.

As grandes companhias de aviação sempre tinham sido uma espécie de nebuloso Walhalla para mim, uma terra que sempre necessitaria de pilotos, que sempre pagaria aquele cheque de ouro em troca de algumas horas mensais pilotando um transporte a jato elegantemente equipado e perfeitamente conservado. Agora, o meu pequeno paraíso fora por água abaixo. Eles não são os melhores, afinal. São apenas pilotos de companhia.

E assim voltei para o meu pequeno biplano e troquei o óleo e liguei o motor e rolei pela pista, colarinho desabotoado, sapatos cambados, cabelos que não viam tesoura havia duas semanas. E lá em cima, empoleirado na beira de uma nuvem de verão, olhando, da minha carlinga, por sobre uma paisagem verde-paz, toda brilhante de sol e lavada pelo céu ilimitado, tive de admitir que, se não podia ter um paraíso de piloto comercial, aquele ali serviria, até que algo melhor aparecesse.

15 junho 2008

Ausência


É mais fácil perdoar o inimigo por sua presença
que o amigo por sua ausência.

12 junho 2008

Procrastinação

Daqui a pouco eu faço...
Hoje à tarde eu faço...
O tempo passa
E logo já é noite.

Então amanhã faço...
Na segunda eu faço...
Os dias passam.
E logo já é tarde.

PS: Nos comentários uma linda poesia (em inglês, mas com a tradução) sobre o mesmo tema.

02 junho 2008

Autoria

Já falei sobre a questão de autoria de textos que correm pela Internet em “Como dizia Aristóteles...”, quando textos são atribuídos a autores que jamais os escreveram. Vítimas freqüentes são Arnaldo Jabor e Luís Fernando Veríssimo.

Quem não conhece o texto “Marionete de Pano”, de Gabriel García Marquez? Quer saber? Ninguém conhece! G. G. Marquez jamais escreveu esse texto, como se prova aqui.

E “Instantes”, de Jorge Luís Borges, que nunca o escreveu? A prova está aqui.

Em uma página do Jornal da Poesia temos vários exemplos:
  • “No caminho com Maiakóvski”, que não é de Maiakóvski, nem de Martin Niemöller, mas de Eduardo Alves da Costa (abordei-o no texto “ATÉ QUANDO?”);
  • “Procura-se um amigo”, que não é de Vinicius de Moraes;
  • “Ter namorado”, que não é de Drummond;
  • “Orgulhosa”, que não é de Castro Alves;
  • “Não te amo mais”, um poeminha para ser lido de cabeça para cima e de cabeça para baixo, que não é de Clarice Lispector.

Hoje aconteceu comigo o contrário. Um texto que publiquei sem autor (pois o havia recebido sem assinatura ou qualquer indicação de autoria) em “Felicidade” ganhou seu pai... Trata-se na verdade do texto “Revolução da Alma”, de Paulo Roberto Gaefke, que me mandou o seguinte comentário:
“É uma honra para mim, ter um texto de minha autoria nesse site tão bem feito e interessante. Gostaria apenas de solicitar a inclusão do meu nome como autor do mesmo, pois Revolução da Alma está em meu livro ‘Decidi ser Feliz’ e se desejar, pode visitar meu site www.meuanjo.com.br e ver outras mensagens que escrevi nesses 8 anos.”
Agradeço os elogios, visitarei o site e certamente comprarei o livro. Eu também decidi ser feliz há algum tempo!

26 maio 2008

Sempre há algo a mais

O encarregado do escritório de patente dos EUA (U.S. Office of Patents), Charles H. Duell, escreveu em 1899 uma carta ao presidente pedindo a extinção do órgão que chefiava pois este não teria mais utilidade. De acordo com ele, “tudo o que podia ser inventado já o foi”.

O filósofo e economista político Francis Fukuyama escreveu em 1989 um artigo chamado “O fim da história” e em 1992 a obra “O fim da história e o último homem”. De acordo com esse autor americano de origem nipônica, nada mais aconteceria de importante na história após a queda do Muro de Berlim.

Obviamente continuam inventando coisas e os fatos históricos continuam acontecendo. Se tais previsões, feitas por especialistas, estavam erradas, o que me faria supor que a minha estava certa?

Supus um dia que já tinha aprendido tudo sobre relacionamentos e auto-conhecimento. Achei que havia aprendido tudo, amadurecido totalmente, levado todas as pancadas que merecia e quebrado a cara todas as vezes que poderia. (Enfim, que havia esgotado todas as possibilidades de erro em um relacionamento).

Estava completamente equivocado: sempre há algo a mais para aprender. Sempre há um passo a mais rumo ao total amadurecimento. Aqui e acolá se descobre um aspecto antes oculto, um ponto que precisa melhorar, um capricho de temperamento que necessitamos eliminar.

Cada vez que penso ter aprendido tudo, a vida me apresenta novos desafios, como se eu fosse um aluno que houvesse passado de ano e agora tivesse que resolver equações mais complicadas.

Mas quantas séries tem a escola da vida? Depende da vida que você quer ter. Eu escolhi ser completamente feliz e para isso preciso fazer até “pós-graduação”... Pelos meus cálculos, pelo número de vezes que “passei de ano” (leia-se “quebrei a cara”), devo estar perto de “PhD”. (Se não estiver, talvez me contente só com o “mestrado”...)

Após a formatura, espero, só restarão pequenos ajustes no temperamento e no jeito de ser: coisinhas facilmente contornáveis no dia-a-dia, atritos mínimos que não custarão o fim de um relacionamento. A imaturidade (a maior parte, pelo menos) será coisa do passado.

Sempre haverá algo a aprender e um pouco mais pra amadurecer. Mas dessa vez, mais do que nunca, espero não ter que “passar de ano”. Chega um tempo em que é hora de ser feliz!

25 maio 2008

Louco seria se eu não seguisse o caminho do amor

Esse é um texto do livro “O Profeta”, de Gibran Kahlil Gibran. É um livro muito bonito, com lições de vida e é facilmente encontrado em livrarias e até em bancas de jornal por um preço bom, pois faz parte da coleção “A Obra Prima de Cada Autor”, da Editora Martin Claret. (Não ganho nada por esse patrocínio.)

O Amor

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
“Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

O texto inteiro é lindo, mas se tivesse que destacar uma só parte, seria esta:
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
Quando o amor vos chamar, segui-o!

23 maio 2008

No ônibus

Viajar de ônibus é uma experiência enriquecedora. Você fica totalmente à mercê do motorista, alguém que você não conhece, que decide aonde vai e com que velocidade.

Nada do que você fizer poderá influir no rumo do ônibus. Pode ler, ouvir música, estudar, dormir, olhar a paisagem ou conversar com um colega de viagem. Nada, absolutamente nada muda em relação ao trajeto e tempo de viagem. Não a tornará mais lenta ou mais rápida, não alterará o caminho.

Eu costumava observar as placas de quilometragem nas rodovias e a partir delas calculava a distância que faltava, a velocidade do ônibus e, conseqüentemente, a hora de chegada. Havia nisso uma ilusão de controlar o ônibus, como a ilusão do galo que pensa fazer o Sol nascer com seu canto. Assim como a aurora independe do cantar do galo, calculando ou não a hora de chegada, chego na rodoviária às 18h30 (ou 5h30, dependendo do destino).

Viajando de ônibus, você pode ter a ilusão de controlar algo, na verdade não controla coisa alguma e ainda assim (ou talvez até mesmo por isso) dá tudo certo.

O que mais você pode deixar de controlar para dar certo?

03 maio 2008

Rally

Preciso aceitar o fato de que jamais terei o controle da minha vida.

Por mais que eu tente prever tudo, por mais que eu tente evitar todos os acidentes, sempre pode haver algo imprevisto, improvável, impossível, imponderável e tantos outros “im”s que causarão alguns estragos.

Posso me cercar de todos os cuidados, de todas as atenções. Posso mesmo cercar de cuidados e atenções as pessoas que amo e demais entes queridos, mas sempre pode acontecer algo indesejável.

É impossível cuidar de tudo, é impossível evitar tudo. Pode cair uma chuva num dia de praia, pode chegar um tornado durante a viagem ao campo, pode cair um meteoro na hora de dizer “eu te amo”.

E pode simplesmente haver um mal entendido, uma palavra solta, um olhar mal explicado, um recado na secretária eletrônica, uma buzinada no trânsito. De uma hora pra outra os ânimos podem mudar.

A gente quer que a vida seja perfeita e sem saltos, mas ela é cheia de surpresas. A gente quer que o caminho seja asfaltado, mas ele é um rally.

28 abril 2008

O que você faz pra mudar o que não aprova? - II

JJ Trellez fez um comentário sobre o post abaixo que merece maior destaque, ou seja, deve ser citado na página principal e, por isso, resolvi transformá-lo em uma nova postagem.

Isso nem é tanto pelo fato de concordar inteiramente com ele, mas pela argumentação consistente. Se tivesse opinião contrária à minha e mantivesse o raciocínio lógico, seria publicado também. (Se bem que o raciocínio lógico sempre nos levará para as conclusões apontadas).

A classe média, única interessada a fazer algo para mudar o status quo, não tem tempo para isso. Precisa trabalhar, estudar, pagar contas, criar os filhos, cuidar dos pais idosos...

Espero que haja tempo, 5 minutos por dia, ao menos, para que a classe média tente mudar o que pode, para sua própria sobrevivência. Antes que seja tarde...

Pelo que se pode compreender do texto [O que você faz para mudar o que não aprova?], existem:

- Uma minoria que vive das regalias que o sistema lhe dá, não precisa que nada mude.

- Uma imensa massa de manobra, ‘dopada’ por assistencialismos e falsos benefícios.

- Uma classe média, achatada e arrochada, por uma economia presa ao capital especulativo, ou seja, volátil, impostos sufocantes e, para completar, tolhida de liberdade de expressão.

Mas o que fazer?

A 1ª categoria detem a maior parte do capital e o poder político (além de ir a Miami e a NY fazer compras regularmente), não quer mudar.

A 2ª categoria listada, que é a grande maioria da população, não quer mudar, ja que é facilmente manipulada pela 1ª, ainda que pense o contrário, pois age com rancor e ódio, ao ver que não possui o que a classe social imediatamente superior possui (e a culpa por isso, não por sua própria inaptidão e despreparo).

E quem é essa outra classe? Sim, é a classe média, que paga colégio, paga plano médico, que paga pedágio, que paga IOF, que paga inteira no cinema, enfim, que tudo paga e nada recebe do Estado.

(Aliás, a festa das carteiras de estudante fraudulentas é mais um ‘benefício’ que os estudantes, aqueles que deveriam ser mais conscientes, fazem-se de coitados para recebê-lo, ao invés de rechaçar tal suborno para ver cinema enlatado e de baixa qualidade).

Falta cobrar? Sim, falta. Mas quando? Esta classe precisa se preocupar em trabalhar, em empreender, em vencer impostos e custos altíssimos, não lhe resta tempo, tampouco energia para reivindicar.

E a quem restaria tal tempo e tal energia? Ao que não lhes interessa mudar o status quo da nação, vejam só!

Ciclo vicioso? Sim. País viciado? Talvez. Ou seria somente a vocação de uma terra, a de ser meramente explorada e espoliada, é “tirar pau-brasil e levar pra Europa”, é vender suco de laranja para os “States” e beber suco Del Valle embalado a vácuo, vindo do México (filial de língua asteca dos próprios “States”, que vive o mesmo dilema tupiniquim) ao triplo do preço.

Esta terra “deitada eternamente em berço esplêndido”, só vai acordar quando esta mesma classe média extinguir-se, ou por falência do próprio sistema ou por desistência, ao imigrarem para países socialmente mais equilibrados, como Canadá e Austrália.

E, sinceramente, quando chegarmos a este ponto, já será tarde, tarde demais.

18 abril 2008

O que você faz pra mudar o que não aprova?

Achei isso no excelente blog “Quando o Brasil me tira o sono” :
O preocupante é que há um corpo-mole da classe média para fazer oposição a Lula e ao PT. Obviamente ela não está satisfeita com o governo (e não só porque ele não a atende, mas porque ela é o único setor da sociedade capaz de perceber os erros estruturais, já que é a menos dependente do estado), e no entanto não se movimenta, não faz barulho, não se manifesta, não diz o que pensa.
Pois é... Quando a classe alta se sente prejudicada (geralmente quando não recebe algum empréstimo a juros baixos de um banco estatal), corre aos parlamentares ou aos governantes e faz pressão através de loobies (ou algo menos publicável).

Quando a classe baixa se sente prejudicada... Não, ela não se sente prejudicada pois está recebendo a bolsa-esmola viciante. Enquanto ganhar a dose mensal dessa cocaína do caráter, não se rebelará contra o traficante.

Resta a classe-média, que além de não receber nem a bolsa-esmola, nem a bolsa-BNDES, é o único setor da sociedade capaz de perceber os erros estruturais. Mas ela não se move!

Deixa eu ser mais claro: VOCÊ NÃO SE MOVE!

O link pra matéria toda está aqui.

14 abril 2008

Sobre certas coisas politicamente corretas - II

“Arrobaram” a língua portuguesa...

Outro dia me vi surpreendido por um texto no qual li “prezad@s coleg@s”. Primeiro imaginei o que seria aquilo... Um A com estilo? Um erro de digitação?

Uma amiga me contou que era um forma de tratar indistintivamente homens e mulheres. De acordo com a teoria, “amig@s” seria ao mesmo tempo “amigos” e “amigas”.

Achei a idéia tão estapafúrdia que resolvi nem citar a mensagem inicial: “car@s coleg@s” seria então o nascimento da expressão “caros colegos”? Haveria no futuro “@s integrant@s”?

Outra dúvida era como ler uma epressão como “prezad@s coleg@s”. Eu leria “prezadarrobas colegarrobas”?

Quanta idiotice! A palavra “amigos” pode muito bem englobar homens e mulheres, tanto que não há erro em dizer ou escrever “Clara é meu melhor amigo”. Fica feio, mas não errado. Outro exemplo: “Ana é o melhor aluno da turma”.

Se eu disser que ela é a melhor aluna, falo só das mulheres. Mas, querendo falar só dos homens, preciso particularizar de alguma forma e isso prova que “aluno” sozinho não se refere só aos homens. “Marcos é o melhor aluno entre os homens.”

Sobre certas coisas politicamente corretas - I

Afro-descendente... Como respeitar um afro-descendente? Não há meios... Dá pra respeitar um negro, um preto, um mulato...

Afro-descendente é um termo de quem tem vergonha da própria cor, de quem tem vergonha de sua bagagem cultural brasileira e busca numa fictícia mãe África as razões do seu orgulho.

A África não é mãe dos nossos negros. No máximo é bisavó. A identidade cultural do negro brasileiro é riquíssima e foi criada e modificada quase que completamente no Brasil. para ficar nos exemplos mais comuns: a capoeira foi inventada no Brasil, na senzala. O candomblé foi a combinação dos cultos africanos com o catolicismo do europeu, mistura genuinamente brasileira. A feijoada, invenção brasileira. O samba... Se você for à África, a todos os países africanos, não encontrará nada parecido com a capoeira, o candomblé, a feijoada ou o samba.

Talvez seja diferente na América Central ou nos Estados Unidos. Talvez lá os negros tenham conservado a cultura de seu país (e tribo) de origem. Mas não no Brasil. Aqui os negros fizeram como todos os brasileiros fazem, misturando, mesclando e assim inovando. Não começamos isso com o Movimento Antropofágico (da Semana de Arte Moderna de 1922). Começamos isso misturando luta com dança, Maria com Yemanjá, feijão com orelha de porco e muito ritmo.

É ridículo querer parecer um embaixador de algum país africano ou soberano de alguma tribo perdida. É renunciar à própria cultura (belíssima) trocando-a por uma que não lhe pertence. É ter vergonha de si mesmo. É ser colonizado. É ser preconceituoso contra si próprio.

Meu negro, se alguém disser que você é afro-descendente, pode ter certeza de que ele quer roubar sua identidade. Dê-lhe um pisão no pé e diga bem alto:
_ Afro-descendente, não! Eu sou um negro brasileiro e tenho orgulho disso!

22 março 2008

Imaturidade

Já falei desse assunto uma vez aqui no blog em Casais Imaturos. Essa semana mais uma mensagem no celular do tipo “não me ligue mais”...

Algumas pessoas não cansam de me decepcionar.

14 março 2008

Traição

Acabo de jogar fora dois textos prontos, por não gostar. Pior do que isso, eu não concordava com nenhum deles. Comecei com uma idéia e o raciocínio desenvolvido provou algo com que não concordo.

Odeio esses dias. Após vários dias sem inspiração, sem conseguir captar as idéias no ar, hoje elas me pregam essa peça: estão todas com a polaridade invertida.


A inspiração é algo um tanto irônico. Tem dias em que acordo no meio da noite e escrevo um texto inteiro. No dia seguinte, para publicar, basta corrigir alguns erros de português e tentar decifrar aquela palavra que o sono deixou meio mal desenhada no fim da página.


Já tive dias em que precisava parar de escrever porque, bem, era tarde e eu precisava dormir. Já desci do ônibus antes do ponto correto porque precisava de um papel e uma caneta e ninguém tinha, e corri a uma papelaria.


Já escrevi um texto completo no verso do caderno de provas de um vestibular (mesmo sabendo que jamais poderia levá-lo pra casa), só pra não deixar a idéia sem registro. (A propósito, perdi tempo na resolução da prova pra fazer isso, mas fui aprovado).


Mas também já rabisquei “palavras-chaves” no papel para depois desenvolver o texto e no outro dia não me lembrava. Uma dessas vezes eu juro que tinha um tratado internacional prontinho pra garantir a paz no Oriente Médio. (Bem, talvez não tanto...)


Já fiquei dias e dias sem conseguir escrever uma letra. Já tive branco na hora de expressar uma idéia, já usei palavras erradas, já fiquei sem palavras. Já coloquei uma palavra em francês porque não lembrava a tradução, já fiquei calado porque não queria dar minha opinião.


Mas hoje foi a primeira vez que elas me traíram. Fizeram-me escrever coisas com a quais não concordo, puxaram meu raciocínio para o lado oposto e tentaram me confundir a mente. Pois bem, foram pro lixo!

21 fevereiro 2008

Ex-pressões Pô Pulares - Pérolas

Esse texto tenho que publicar. Um pouco de humor faz bem... Veja as expressões abaixo. Conhece outras?

Ex-pressões Pô Pulares - Pérolas


Existem algumas expressões transformadas pela "sabedoria" popular que ficam muito, muito mais engraçadas que os termos originais.
  • Libras estrelinhas: chamar a moeda britânica de esterlina não tem o menor charme, sejamos honestos. Estrelinhas deixam o dinheiro bem mais meigo.
  • Chuva de granito: cubra sua casa hoje mesmo com chapas de aço! Porque, se a chuva deixar de trazer granizo para lançar pedras duras do céu, estamos lascados.
  • Trocar o fuzil: quando a luz apaga em toda a residência, pode ser um fusível queimado, e é só arrumar um novo. Mas se tem gente que prefere colocar armas de fogo no jogo, fique atento.
  • Larva de vulcão: É uma expressão divertida, mas bem nojenta de imaginar. Em vez de vulcão expelir lava, ele soltaria vermes para todo lado. Credo!
  • Casa germinada: Olhando para sobrados vizinhos, ninguém diria que eles nasceram de uma semente. Sim, porque é desse jeito que alguns chamam as casas geminadas, não é?
  • Poção de fritas: Está certo, algumas pessoas fazem mágica na cozinha. Mas nós queremos conhecer esse mestre-cuca que prepara uma porção de batata frita na base da feitiçaria.
  • Nervo asiático: Que dor no ciático, que nada! Os nervos deviam mesmo ser denominados segundo sua posição geográfica. “Torceu o pé? Xiii, vai doer o nervo antártico”.
  • Assustar o cheque: É um clássico, não? Quem liga para sustar as folhas do talão? Nós queremos é preparar um “bu!” e pregar sustos em todos eles - até serem cancelados pelo pavor.
  • Estado de goma: Saber de um doente que ficou em estado de coma não é engraçado, claro. Já ouvir que o sujeito quase virou bala é uma tentação para o riso. Desculpe, mas é.
  • Vento encarnado: Levar uma rajada de vento encanado pode causar um resfriado. Mas, muito cuidado! Se o vento também vier possuído por um espírito, será bem pior!

12 fevereiro 2008

“Eu te amo” às vezes machuca

A vida muitas vezes é tão surreal!

(Mal publiquei um texto sobre mensagens de celular e vou colocar outro.)

Após várias mensagens carinhosas, entre elas:
Scott, te adoro!
(Errou meu nome, mas tudo bem... Geralmente as pessoas erram mesmo.)

Recebo a seguinte:
Scott se tudo der certo aqui vou tentar ir agora a noite colocar suas fotos tah? TENTAR! Hehe bjo! Te amu! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Fotos? Quais fotos? Ela estava falando com o Scotch errado... Seria cômico se não fosse trágico.

10 fevereiro 2008

Casais imaturos

Ano passado mandei uma mensagem pra uma pessoa no Orkut (sim, eu tinha perfil no Orkut). Simples, dizia somente “sonhei contigo na noite passada”. Não dizia ter sido sonho erótico nem nada perto disso (até por falta de motivos). Poderia ter sido até um sonho premonitório, quem sabe? O namorado dela me esculhambou, fez ela me tirar da lista de amigos e me adicionar na lista de “ignorados”.

Eu tinha pouco contato com ela. Poderia mesmo representar uma ameaça à estabilidade do casal?

Ainda em 2007, mandei uma mensagem para o celular de outra amiga, perguntando quando ela viria para minha cidade e terminava com “saudades”. Não tinha “eu te amo”, não dizia “saudades do teu beijo” nem nada assim, até porque não havia motivo. O inseguro namoradinho dela (os homens às vezes são tão imaturos) ligou de volta, me esculhambou (estou me acostumando com isso) e ela me pediu para nunca mais ligar ou passar mensagens (“ordenou” seria a palavra correta, se ela pudesse mandar em mim).

Não sei como eu poderia ameaçar o casal, morando em outra cidade e vendo a Marianna (nomes alterados para manter o anonimato) no máximo três vezes por ano...

Mas eu não aprendo mesmo. Dia 30 de janeiro foi aniversário dela e mandei a seguinte mensagem atrasada:
Marianna, meus parabéns atrasados. Lembrei no dia mas estava sem crédito. Felicidades! Scotch (vizinho)
Oh! Pra quê? Quer a resposta? Dia 7 de fevereiro (ela ficou um tempão ensaiando a resposta...)
Vi tua msg. Mas p evita problema ñ me manda mais msg pq vc ja me causo problema antes mandando msg. Marianna
Às vezes a gente tem carinho por uma pessoa sem querer nada em troca, sem segundas intenções. Era o caso. Percebi que ela estava cometendo um erro, se deixando dominar por um carinha inseguro que no futuro, provavelmente, ia bater nela se sonhasse que ela sorriu pra alguém. Tentei avisar:
Nem se preocupe. Você escolhe quem são seus amigos e como age com eles. Aquela e essa são as últimas. Um dia você vai perceber o erro de cortar amigos por amores. Fica com Deus.
Mas tem gente que não vê o erro que está cometendo nem se um aviso neon vermelho piscasse na frente dos olhos.
Ñ to cometendo erro algum. Só ñ qro problemas. Tchau. Marianna
Se o que ela não quer é problemas com o namorado, a probabilidade é que os tenha no futuro. Se por causa de uma inocente mensagem de amizade ele a fez parar de falar comigo, imagina o que faz com eventuais amigos que ela tenha na cidade deles! E também o que poderá fazer quando (se) casarem...

Não sei por que os namorados se sentem tão ameaçados por tão pouco. E chega desse assunto! Escrevi demais por pessoas que não mereciam nem uma linha.

07 fevereiro 2008

Exercício de Paciência II

Novos textos
em breve...

22 janeiro 2008

Exercício de Paciência I

Tosse.
Coriza.
Febre.
Mal estar e dores no corpo.

Xarope.
Comprimido.
Chá.
Uma gripe dura sete dias.

10 janeiro 2008

A política e os porcos

Nas conversas sobre política, inevitavelmente alguém argumenta que a esta é um jogo sujo.

A afirmação de que é um jogo mesquinho e corrupto serve apenas para afastar o homem honesto da política, gerando uma apatia que perpetua o jogo sujo estabelecido.

Entretanto são esses políticos que tomarão as decisões que dizem respeito aos aspectos mais íntimos e cotidianos da nossa vida.

Nossos pais ansiaram e lutaram pela democracia e pelo direito de participação política. Deixaremos nós, apenas uma geração após, que todo o legado de luta e conquistas seja jogado no lixo, ou dizendo melhor, seja atirado aos porcos?

Se os maus tomam conta da política é por causa do silêncio dos bons. Para que o mal triunfe, basta que o bem se omita?

Se a política é suja, é porque deixamos os porcos sozinhos cuidando dela.

06 janeiro 2008

Feliz Ano Novo

Enquanto termino uns trabalhos que têm me ocupado mais que o desejável, coloco pra vocês um post do Guil, que tem o excelente blog átomo - idéias em fusão. Foi escrito por ele, mas bem que poderia ser escrito por mim...

No meu último post no BLOGuil, eu inventei uma nova seção, a Seção Exumação. Antes que alguém se assuste com o nome, trata-se de fotos de coisas dos anos 80, como a caneta Kilométrica, que inaugurou a seção, seguida de uma pequena descrição do que seria aquela coisa, para quem não sabe ou não se lembra. Eu tenho várias coisas dos anos 80 aqui em casa, e esse foi um dos motivos pelos quais eu decidi criar essa seção. O outro motivo é mais pessoal: Eu tenho muita saudade dessa época.

Eu não escondo isso de ninguém, e todo mundo sabe que eu sou fanático pelos anos 80, mas um comentário da Angelrose me fez refletir e escrever este post mais sério. Ela disse algo do tipo "tão novinhos e tão saudosos".

Realmente eu nunca tinha pensado nisso. Para quem não sabe, eu fiz 25 anos mês passado. Não me considero velho, muito pelo contrário - apesar de sempre brincar dizendo coisas do tipo "quando eu era pequeno as crianças não sabiam o que era sexo, devo estar ficando velho", talvez em uma reflexão crítica inconsciente quanto ao rumo da sociedade. Não sendo tão velho, teoricamente, eu não teria tantos motivos para sentir saudade. Qual seria a razão, então, de eu sentir saudade de simplesmente tudo o que me aconteceu em minha não-tão-distante-assim infância?

Talvez fosse aquela uma época mais feliz. Tinha a Guerra Fria e um restinho da ditadura, é verdade, mas ninguém tinha medo de sair na rua, nem de ficar em casa desempregado pelo resto da vida. Eu costumava dizer, em minha adolescência, que as últimas pessoas que tiveram infâncias felizes foram as que nasceram em 1981. As demais já pegaram uma programação cheia de sexo, violência urbana e power rangers. E quando eu digo "programação", não estamos restritos às telinhas das tevês. Quando eu era pequeno, contava nos dedos os amigos que tinham pais separados: um. Hoje em dia, se você for a qualquer reunião de pais de escolas primárias, vai achar um montão. As músicas não tinham duplo sentido - e, quando o tinham, era político, não sexual. O dinheiro já era importante, é claro, mas não era justificativa para tudo - você sabe que alguma coisa está errada quando todos os brinquedos têm a cara do Gugu.

De uma forma geral, acho que era uma época mais inocente, não porque eu era criança, mas porque toda a sociedade, de forma geral, era menos preocupada com certos vícios, e mais agarrada a certos valores. Acho que eu tinha uns 10 anos quando descobri como as pessoas faziam sexo, e levei um susto - não, eu não vi uma demonstração prática - mas, hoje em dia, com a desculpa de que "precisamos ter crianças bem informadas", qualquer menininha de quatro anos já sabe até algumas posições. Eu jogava pac-man e banco imobiliário, hoje o sobrinho de um amigo meu só quer saber de ver raios enormes e gente explodindo no Dragon Ball, tanto na tv quanto no videogame. Eu só ouvia Xuxa e Balão Mágico, e nem tinha vontade de ouvir "música de adulto". Há uns anos atrás conheci uma menina de 3 anos que sabia todas as coreografias do É O Tchan.

Eu não vou dizer aqui que tudo isso está errado. A sociedade mudou, "evoluiu". Não é errado, apenas diferente. Mas isso me entristece. Fico pensando como será quando eu tiver que criar os meus filhos, se a coisa continuar caminhando dessa maneira. E toda vez que vejo meu astronautinha do Tente na estante, ouço Kayleigh ou assisto a um replay da TV Pirata no Video Show me dá saudade. Talvez não de ser criança, mas simplesmente de ter vivido nos anos 80.
(Postado dia 09 de
abril de 2003 em http://atomo.blogspot.com/2003_04_09_atomo_archive.html)

Pois é... Um feliz ano novo pra todos vocês... Por hora ainda estou no ano velho. Meu calendário mostra 2008 mas ainda tenho várias tarefas de 2007 pra terminar, além dessa saudade de ter vivido nos anos 80.