29 outubro 2007

O de Dante e o dos outros

Acabamos de completar 19 anos da promulgação da “Constituição Cidadã”. Aqui e acolá ouço gente maldizer a democracia, ao mesmo tempo em que nosso governantes minam as instituições democráticas para concentrar o poder em suas mãos.

O povo, ingênuo ou besta, achou que a simples assinatura da Carta Magna seria capaz de melhorar sua vida. As coisas não são assim... A democracia é um processo, um aprendizado onde povo e instituições interagem se adaptando e (tomara) aperfeiçoando.

O que são 19 ou 20 anos na história de um país? NADA! São como 19 ou 20 semanas na idade de uma pessoa. É preciso tempo para colher os frutos, é preciso vigilância e perseverança.

O povo, que esperava o milagre “por decreto”, a instantânea salvação assim que fosse assinada a Constituição, conta o tempo em segundos e acha que 20 anos são uma eternidade. Cansa-se da democracia, da obrigação de vigiar e tem-na por coisa barata.

Não percebe que aos poucos se muda o mundo (ou ao menos a pátria). Hoje, quase 20 anos após a promulgação da Constituição, começam a chegar aos postos de comando das empresas, dos tribunais e das instituições em geral as crianças de 1988. Cidadãos que não têm na formação nenhuma memória e tampouco costume das atitudes típicas da ditadura (opressão, favorecimento de uns e outros baseados em características subjetivas, etc.).

Na ditadura encontrávamos no comando pessoas que faziam o que bem queriam. De 1988 em diante, eram pessoas que faziam o correto porque eram fiscalizadas, porque se não agissem de acordo com as normas seriam punidas (mas, como primeiro precisavam ser pegas, buscavam sempre dar um jeito de burlar a fiscalização ou a norma).

Aos poucos o cenário muda para termos nas posições de chefia pessoas preocupadas em fazer o certo porque é o melhor para todos, porque se não for feito o melhor o país “vai à falência” e adeus galinha dos ovos de ouro!

No futuro, daqui a 20, 40 ou 60 anos, teremos nas posições de comando nossos filhos e netos e, talvez, eles façam o que é certo não por medo de serem pegos nem por ser o melhor para o país. Eles farão o certo porque não verão alternativa, não saberão fazer de outra forma, não conseguirão burlar ou fazer uso do “jeitinho”, suas consciências os impedirão de agir errado.

Farão o certo não por medo ou responsabilidade, mas porque fazer o certo é o certo a se fazer, sem alternativa.

Um comentário:

Milford Maia disse...

Com toda a certeza, minha cara Aleste,

O processo democrático é algo lento, complexo, não se faz da noite para o dia, nem com decretos, medidas provisórias, pacotes e emendas milagrosas.

Concordo plenamente quando se defende o bem fazer pelo bem fazer, o fazer correto porque assim o é.

Pois enquanto for preciso um fiscal, um guarda, um vigia, um soldado, uma babá para que se façam e se cumpram as regras e leis, não haverá uma pátria, uma nação, mas um jardim de infância, uma creche, repleta de crianças mal crescidas e mal educadas.

Mais uma vez, um grande tema para discussões e reflexões, como já é de costume, por esta brilhante equipe de "É tarde".

Forte abraço! Visite o blog!!!