23 maio 2009

Educação infantil e (falta de) caráter do brasileiro

Quando vejo uma criança querendo fazer algo que não pode, quase sempre o adulto que o acompanha se sai com uma destas frases:
_ Não faz que o homem briga!
_ Se fizer, vai ficar doente!
_ Faça e eu te boto de castigo!

Fico me perguntando onde foram parar (se é que já existiram) o “porque não pode” e o “porque é errado”. Fiquei pensando nesse traço da educação infantil e na forma como ele se manifesta no adulto (e como isso ajuda a explicar o Brasil).

Aprendemos desde criança que algo pode ser feito, seja certo ou errado, desde que
  • Nenhum policial, fiscal ou outra autoridade esteja presente (o “homem que briga” não esteja por perto);
  • Não traga prejuízos a si (não “fique doente”); e
  • Haja uma forma de evitar a punição, por influência, propina ou recursos judiciais (escapando do “castigo”).

Não sei como é que as mães americanas, européias e japonesas educam os filhos. Nem tampouco como é no Haiti, Senegal e Congo. (A ajuda de leitores seria bem vinda). Talvez em alguns países as mães dêem as mesmas desculpas e prometam o mesmo castigo, mas quando ficam mais velhos, os filhos recebam a noção de certo e errado. Pode ser que em outros países as mães ensinem desde cedo que não se deve fazer porque é errado, pura e simplesmente. Mesmo que não haja homem pra brigar ou risco de adoecer. E com castigo se fizer, não como ameaça (geralmente não cumprida), mas como corretivo.

Também não quero ensinar como educar os filhos. Cada qual que cuide dos seus. Me preocupo é com essas crianças crescidas sem valores, pessoas que passam no vermelho quando não tem foto-sensor, que estacionam em local proibido quando não tem guarda, que pagam propina ao fiscal pra liberar a mercadoria, que viajam com a família às custas do contribuinte porque não era proibido (e precisa proibir o imoral?), que pintam e bordam porque o irmão é amigo do presidente e depois manda arquivar, etc.

O fato de não ser punida não torna a transgressão um acerto, não ser pego não moraliza a imoralidade, ninguém ver o crime que você fez não te torna honesto. O Direito - e a condenação, prisão, multa, etc. - não é a única forma de julgamento. Antes dele há o caráter, a moral, a ética, os costumes, os preceitos religiosos e a desaprovação social. Infelizmente todos estes são fracos no Brasil.

Depois de muito me perguntar quando foi que o brasileiro perdeu as noções de caráter, começo a perceber que ele talvez nunca as tenha desenvolvido.

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.

"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o exemplo vindo de seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta aonde vive...

Equipe Emplastro disse...

A conclusão do post parece acertada, na maior parte do tempo.

Sobre o post "Geanealogia do Brasil", pode publicar sem problemas, bem como qualquer outro do Emplastro Cubas.

Vou dar uma lida aqui.

Abraço