28 setembro 2016

Um bilhete curto e já não há nada


Em um livro que comprei em um sebo, achei o seguinte bilhete:

Todos os meus sonhos se foram.
Não falo aqui dos implausíveis sonhos de infância, como ser astronauta ou o melhor jogador de futebol do mundo. Sonhei tudo isso e outros sonhos. E esses outros é que hoje me fazem falta.
Sonhei que daria uma casa para meus pais, não tenho nem a minha.
Sonhei que daria um carro para cada um deles. Ando em um carro com 7 anos de uso.
Sonhei que ampararia meus pais na velhice. Eles estão velhos, eu quase isso, e mal consigo pagar minhas contas.
Sonhei que por volta dos 25 casaria e com 30 teria um ou dois filhos. Tenho quase 50 e estou só.
A você que achou este bilhete, poderia dar muitos conselhos, como procurar um bom emprego, estudar muito, manter o foco e outros. Mas de que adiantaria? Fiz tudo isso e onde aonde cheguei?
Não pense que sou amargurado. Vivo bem, não sou feliz nem triste. E não sei o que recomendar a quem ler este bilhete. Simplesmente existo e isto me basta. Que você tenha melhor sorte.

Isto foi há três dias. Pra quem responder? Não há no livro nenhum nome, endereço, telefone, mensagem de e-mail, nada.

Mas, principalmente, o que responder? O que posso dizer pra alguém que “não é feliz nem triste”, que “simplesmente” existe e isto “basta”?

PS: Lembrei do início da letra de “Alice (Não Me Escreva Aquela Carta de Amor)”: Tantos sonhos morrem em poucas palavras, um bilhete curto e já não há nada. Na música, o bilhete mata os sonhos. Neste caso, o bilhete é só o atestado de óbito...

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