04 julho 2007

O Meu Olhar (de Alberto Caeiro)

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Recebi esse texto por e-mail de uma amiga. Embora não costume postar textos de outros autores, acho que ela tinha razão quando disse que este texto combina com o blog. Obrigada.

3 comentários:

Lana krisna disse...

Também concordo com a sua amiga!

Admiro seu gosto por literatura!

abraço!

Lana krisna disse...

Concordo com a sua amiga!

Admiro seu gosto por literatura!

Milford Maia disse...

Certamente, Alesya, tal texto combina plenamente com o espírito de "É tarde, vou dormir...".

E citar Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Alberto Caeiro, é demonstração de sensibilidade e conhecimento literário.

Forte abraço! Visite o blog!